PEDRO CABRITA REIS

“Selfie?”

Lisboa, sábado, 28.01.23, pelas 16:30, no atelier da Rua do Açúcar.

O encanto dos artistas por essa coisa chamada Polaroid vem de longe, desde que se cruzaram os caminhos de Ansel Adams e Edwin Land, o inventor desse objecto de culto.

De Rauschenberg a Andy Warhol, de Araki a Keith Haring, de Mapplethorpe a William Wegman, passando por Lucas Samaras, Chuck Close, Patti Smith e Annie Leibovitz entre tantíssimos muitos outros, a Polaroid nunca deixou de ser transformada, reinventada, rasgada, pintada, queimada e de novo reiniciada no modo frágil, misterioso, quase perturbador com que devolve o olhar que, sobre paisagens, rostos, flores, corpos, arquitecturas, sobre o brilho do mar, da luz à côr,

do anonimato da noite à doçura das tardes de verão, vai perscrutando aqueles quase nadas que estendem incessantemente o fetichismo voluptuoso desse pequeno quadrado quase mágico, encostado ao calor do corpo com a mão, um ténue gesto, que traz à luz dos olhos os mistérios revelados nas profundezas dessa fina espessura de plástico.

É isso a Polaroid.

E talvez este retrato em 24 fragmentos, de seu nome “Selfie?”, também possa ser tudo, ou quase tudo, ou mais ainda do que aquilo que atrás ficou dito.

Pedro Cabrita Reis