Os pinheiros, o amarelo dos pólens e o verde das folhas.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 1


A necessidade de ter razão, marca de espírito vulgar

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 1


Loucura - Belo cenário da admirável manhã - Sol.  Céu e ossadas. Música.

Um dedo sobre a laje.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 1


Subir até ela de cada vez é conquistá-la de cada vez, de tal modo o caminho até lá é escarpado.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 1



ROMANCE

"Dei aos homens a parte que lhes cabia.

Quer dizer que, com eles, menti e desejei.

Corri de ser a ser, fiz o que era preciso..

Agora, basta.

Tenho contas a ajustar com esta paisagem.

Desejo ficar só com ela.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 4

 


O coração a envelhecer.

Ter amado e nada todavia ser salvo!

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 4


Edital na caserna: "O álcool extingue o homem, para despertar a besta". - o que o faz compreender por que motivo gosta de álcool.

 

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 2

 

 

 


Personagens absurdas.

Calígula. O gládio e o punhal.

"Creio que não me compreenderam bem anteontem quando ataquei o sacrificador com o maço com que ele ia matar a bezerra. No entanto era muito simples. Por uma vez, quis alterar a ordem das coisas - para ver, em suma. O que vi é que nada mudou. Um pouco de espanto e de pavor nos espectadores. Quanto ao resto,. o Sol pôs-se à mesma hora. Conclui que era indiferente alterar a ordem das coisas".

Mas por que motivo um dia o Sol nascerá a oeste?

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 3


Ter nascido para criar, amar e ganhar, é ter nascido para viver em paz. Mas a guerra ensina a perder tudo e a tornar-mo-nos naquilo que não éramos. Tudo se transforma numa questão de estilo.

 

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 3


Pequena baía antes de Tenès, na base de uma cadeia de montanhas. Semicírculo perfeito. Ao cair da noite uma plenitude angustiada plana sobre as águas silenciosas.

Compreende-se então porque é que os Gregos formaram a ideia de desespero e da tragédia sempre através da  beleza e do que nela há de opressivo. É uma tragédia que culmina. Ao passo que o espírito moderno produz o seu desespero a partir da fealdade e do medíocre.

É o que Char quer dizer talvez. Para os Gregos, a beleza é o ponto de partida. Para um europeu, é um fim, raramente atingido.

Não sou moderno.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 5


Sentido da minha obra: Tantos homens estão privados da graça.

Como viver sem a graça?

Temos de nos pôr à obra e fazer o que o Cristianismo nunca fez: ocupar-se dos danados.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 4

 


Não creio nas ações desesperadas.

Apenas creio nas ações fundamentadas.

Mas creio que é preciso bem pouco para fundamentar uma ação.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 4

 

 

 

 


Uma virtude extrema que consiste em matar as suas paixões. Uma virtude mais profunda que consiste em equilibrá-la.

Tudo o que vale hoje no espírito contemporâneo está instalado no irracional. E, no entanto, tudo o que prevalece na política professa, mata e governa em nome da Razão.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 5

 


"O homem que se arrepende é imenso.

Mas quem quereria hoje ser imenso sem ser visto?"

(Vida de Rancé).

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 4

 

 

 


Ensaio sobre as quarenta horas.

Na minha família: trabalho dez horas. Sono.Domingo

Segunda feira - Folga: o homem chora. A grande miséria do homem é que ele tenha que chorar e desejar aquilo que o humilha (concurso).

"Fala-se muito neste momento de dignidade do trabalho, da sua necessidade. M.Gignoux em especial, tem opiniões muito precisas a respeito do assunto...

Mas é uma aldrabice.

Não há dignidade no trabalho, a não ser no trabalho livremente aceite. Apenas a ociosidade é que é um valor moral porque ela pode servir para julgar os homens. Só é fatal para os medíocres. É a sua lição e a sua grandeza. O trabalho, pelo contrário, destrói igualmente os homens.  Ele não institui um juízo. Põe em acção uma metafísica da humilhação. Mesmo os melhores não lhe sobrevivem, sob a forma de escravatura que a sociedade dos bem-pensantes agora lhe dão...Eu proponho que se inverta a fórmula clássica e que se faça do trabalho um fruto da ociosidade. Há uma dignidade no trabalho das pequenas partidas jogadas aos domingos. Ali o trabalho alia-se ao jogo e o jogo submetido à técnica atinge a obra de arte e toda a criação...Sei de pessoas que se extasiam e se indignam. Pois quê!, os meus operários ganham quarenta francos por dia...

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 2

 


A tagarelice - o que há de mais insuportável e degradante.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 2

 


O deputado de Constantine que é eleito pela terceira vez.

No dia da eleição morre ao meio-dia.

Á noite vão aclamá-lo.

A mulher aparece à sacada e diz que ele está ligeiramente fatigado.

Pouco depois o cadáver é eleito deputado.

Era o que era preciso.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 2


Não sou feito para a política pois sou incapaz de querer ou aceitar a morte do adversário.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 5

 


A reputação.

É-nos dada por medíocres e partilhamo-la com medíocres e malandros.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 4

 


Ontem. O sol sobre o cais, os acrobatas árabes. e o porto resplandecente de luz. Dir-se-ia que para o último Inverno que aqui passo, este país se prodigaliza e desabrocha. Este Inverno único e vibrante de frio e de sol. De frio azul.

Lúcida embriaguez e miséria sorridente - o desespero na viril aceitação das estrelas gregas. Que necessidade tenho eu de escrever ou de criar, de amar ou de sofrer? Aquilo que na minha vida está perdido, no fundo não é o mais importante. Tudo se torna inútil.

Nem o desespero nem as alegrias me parecem ter sentido perante este céu e o luminoso vapor que dele emana.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 1


A politica e o destino dos homens são organizados por homens sem ideal e sem grandeza. Aqueles que têm uma grandeza neles próprios não se ocupam da política. Assim em todas as coisas. Mas trata-se agora de criar em si próprio um novo homem. Seria preciso que os homens de acção fossem também homens de ideal e poetas industriais. Trata-se de viver os próprios sonhos - de os pôr em movimento. Outrora, renunciávamos ou perdíamo-nos. É necessário não nos perdermos e não renunciarmos.

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 2


Sobre uma porta:

"Entre. Eu estou enforcado".

Entra-se e é verdade.

Ele diz "eu" mas ele já não é "eu".

 

ALBERT CAMUS

Primeiros Cadernos

Caderno nº 2